Mostrando postagens com marcador Kant. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Kant. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sobre a inimizade entre espaço e conceito

Em seu artigo Kant e o Selvagem da Nova Holanda, particularmente na seção 12, João Carlos Brum Torres se refere à nota ao parágrafo 17 da Dedução Transcendental (Crítica da Razão Pura, de Kant). Lá, segundo o autor, são comparados e distinguidos "dois diferentes modos de estabelecer a relação uno-múltiplo no universo das representações" (p. 83 de Transcendentalismo e Dialética).

Grosso modo, a diferença pode ser rastreada a partir da diferença entre conter sob si e conter em si. Num caso, o uno contém sob si o múltiplo: trata-se do modo próprio aos conceitos. Noutro, o uno contém em si o múltiplo: trata-se do modo próprio ao espaço.

Segundo a interpretação de Brum Torres, a nota do parágrafo 17 amplia a lição já dada na Estética Transcendental "ao sugerir que o regime da relação todo/parte que fora apresentado como próprio do espaço é a forma de estruturação interna das intuições consideradas como um modo específico de cognição."(p. 84)

Ou seja, o parágrafo 17 estende, às demais intuições (as empíricas), a relação uno-múltiplo do espaço (intuição pura). Assim, argumentação parte das seguintes premissas:

  1. há uma certa caracterização acerca desta relação no item 3 da Exposição Metafísica;
  2. essa caracterização - aplicada a toda intuição a partir do parágrafo 17 - é suficiente para distinguir a relação uno-múltiplo no espaço daquela própria aos conceitos;
  3. o espaço (todo) contém em si suas partes; e a distinção entre espaço e conceito deriva da condição de que aquele, diferentemente desse,  contém suas partes 'em si'.
Ocorre que, dizer que o espaço contém em si suas partes não basta para distinguir o espaço de um conceito. Supondo correto que o espaço contém em si os espaços particulares, o que dizer da relação entre um conceito e suas notas características? A mesma relação se aplica? Como sustentar que um conceito não contém em si suas notas características sem amputar os textos de Lógica de Kant, particularmente no que diz respeito à diferença entre intensão e extensão de um conceito?

É possível explicar a diferença noutros termos, avançando no fundamento da distinção? Creio que sim. Isso é parte do que pretendo fazer na dissertação ora (muitas horas!) em curso.