terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Objeções ao método transcendental em filosofia e respostas

"método transcendental em filosofia" significa, aqui, a reflexão filosófica que cada um de nós é capaz de fazer e que satisfaz duas condições: i) envolve uma consciência reflexiva e ii) envolve juízos a priori.

R é uma relação é reflexiva se e somente se para todo x, Rxx. Julgar a priori é é julgar pretendendo a verdade necessária, a verdade que não varia no curso da experiência (do tempo). Assim, se julgo a priori p, quero com este ato significar que p é verdadeiro e mais, que p é necessariamente verdadeiro isto é, p é verdadeiro em qualquer tempo, passado, presente e futuro.

Há pelos menos duas objeções à exeqüibilidade do método transcendental em filosofia.

Primeira Objeção

Objeção

1. A exeqüibilidade do método transcendental implica a possibilidade da reflexividade da consciência.
2. A reflexividade da consciência é impossível.
3. Logo, o método transcendental é inexeqüível.


Resposta

É impossível julgar 2 isto é, que a reflexividade da consciência é impossível. Julgar que a reflexividade da consciência é impossível é um juízo sobre a consciência. Julgar em geral é um ato de consciência. Portanto, essa negação, esse ato depende da possibilidade que quer negar, da possibilidade da reflexividade da consciência. Não é, ipso facto, um ato possível. Assim, não se trata de negar 2, mas de recusar-lhe a possibilidade de que seja afirmada.

Segunda Objeção

Objeção

1. Como matéria de fato, os atos da consciência humana são temporais.
2. Numa relação de identidade, as condições a que o determinante (domínio) está submetido transitam para o determinado (imagem).
3. A consciência reflexiva é uma relação de identidade.
4. Logo, de 1,2 e 3, nos atos de consciência reflexiva humanos, a temporalidade do determinante transita para o determinado.
5. Logo, nos atos de consciência reflexiva humanos, o determinado está submetido ao tempo
6. Aquilo que está submetido ao tempo não pode ser objeto de juízo a priori.
7. Logo, de 5 e 6, nos atos de consciência reflexiva humanos, o determinado não pode ser objeto de juízo a priori.
8. Logo, nos atos de consciência reflexiva humanos é impossível julgar a priori isto é, mediante uma consciência reflexiva humana é impossível julgar a priori.
9. A exeqüibilidade do método transcendental implica a possibilidade de julgar a priori mediante uma consciência reflexiva.
10. Logo, o método transcendental é inexeqüível.


Resposta

Não sei. Mas suspeito que passa pela negação de 2, que parece assumir uma noção demasiado estrita da relação de identidade. A estrela da tarde e a estrela da manhã não satisfazem exatamente as mesmas condições. No mínimo resta a possibilidade de referirmo-nos diversamente, ora como estrela da tarde, ora como estrela da manhã. Ao que se poderia objetar que não se trata de diversidade na coisa, mas apenas no juízo. Nesse caso, contudo, se é tributário da tese segundo a qual é possível pensar nas coisas "nuas" isto é, irrespectivamente, pensá-las sem pensar sob algum aspecto determinado. Esta implicação, por sua vez, repousa na má compreensão acerca dos limites de nossa capacidade de julgar, o que a filosofia crítica pretende corrigir.

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